Wednesday, June 18, 2008

Daqui pra lá, de lá pra cá.

"O homem é um animal que não deu certo. A verdadeira evolução deve estar se processando em outra espécie, a nossa foi um começo falso que esqueceram de cancelar. Como o hipopótamo. Fizeram uma experiência, foi isso. Deixa ver: um bípede, com um dedão opositor, nariz aqui, boca ali, um cérebro dedutivo, autoconsciência, imaginação para anedotas e um furor no corpo...não, não. Não vai dar certo. Corta esse. Mas não cortaram! O homem permanece e se procria, iludido de que a criação é com ele, que ele é o fim e a razão em vez de um equívoco do processo. Não podia dar certo.
O processo esqueceu de nós. Vai ver a verdadeira evolução já veio e já foi, alguma outra raça já está com o Universo. Sobraram na Terra as tentativas descartadas. O hipopótamo, o homem, a tartaruga, os ciprestes, o rebutalho da grande experiência. Mas só o homem com a danação da autoconsciência. Foi a grande anedota que pregaram no homem, a de lhe darem cosmogonia (o hipopótamo não tem uma cosmogonia) e no fim lhe negarem o Universo. Aparelharam o homem para compreender a evolução e a razão de todas as coisas e ele se vê condenado a compreender a si mesmo, uma péssima troca."

(Luís Fernando Veríssimo - Terrível)

Era um pacato cidadão sem documento; não tinha nome, profissão, não tinha tempo.
Mas certo dia deu-se um caso e ele embarcou num disco e foi levado pra bem longe do asterisco em que vivemos. Ele partiu e não voltou; e não voltou porque não quis.
Quero dizer, por lá ficou já que por lá se é mais feliz.
E um espaçograma ele enviou pra quem quisesse compreender; mas ninguém nunca decifrou o que ele mandou dizer: "Terra, mar e atenção; o futuro é hoje e cabe na palma da mão"
Para azar de quem não sabe e não crê que se pode sempre a sorte escolher; e enterrar qualquer estrela no chão.
"Terra, mar e atenção; fica a morte por medida, fica a vida por prisão"

(Zeca Baleiro - Fagner)